15.8.08

Cinema novo Vs Cinema de Invenção

A crise entre o cinema de invenção e o cinema novo inaugurada no final da década de 60 com o "bandido" e daí em diante (se acharem "arrogante" a afirmação, falem) é a crise do roteiro ideológico no cinema.

o cinema novo, inaugurado pelo ícone da batalha de antônio das mortes e corisco girando girando antes de morrer no sertão - camera na mão de glauber em "deus e o diabo", momento máginco do cinema - sempre teve espasmos de invenção como este. mas, fora os revolucionários do cinema novo, como glauber, o cinema novo tinha auto-determinação de contar a história da revolução do e para o povo pobre, campesino, brasileiro. já os marginais simplesmente não apostaram que contar a revolução "real" era tarefa "revolucionária" da arte. com isso, o cinema experimental abriu um espectro novo ao cinema.

realismo social?

a crise - se é que houve briga entre os diretores - pode ser sintetizada pela fórmula: realismo social vs realismo mágico-fantástico. O coveiro que busca a mulher perfeita - zé do caixão - o samurai gordo em performance ao vivo no centro de são paulo - jô soares em "" são loucuras inconcebíveis ao cinema novo. para eles, seria como que uma "diluição" da revolução: fugir à tarefa. os tipos típicos do cinema novo são o sertanejo pobre, o retirante, a revolução, os coronéis.

em meio à ditadura, à revolução cubana, à guerra fria, às promessas de jango, ào PC, numa palavra, à possibilidade da revolução comunista, o cinema novo optou por uma linguagem didática que "explicasse" a revolução às massas. aprisionaram-se num prisma ideológico-quase-moral. o sumo de invenção está naqueles que revolucionaram a fórmula e conseguiram fazer cinema de invenção perpassando as contradições da vioda social.

o cinema marginal, mais modesto mas mais universal, focava-se na revolução dentro do cinema: experimental, invenção de linguagem. em algum ponto, podiam encontrar-se. "cãncer" de glauber é um desses pontos.

sem fazer "mea"-culpa, lobby, ou essas coisas típicas de cineastas, há, porém, o outro lado da moeda: o cinema novo montou uma geração produtiva de cinema. muitas vezes, "diluidora" de si mesma, mas aglutinadora de público. é a noção que décio pignatari captou, que pode ser sintetizada pela expressão: a vida vale pelos extremos mais caminha pelos meios. ou seja, a maioria das pessoas lê livros e vê filmes de 99% de redundância, mas estes livros cumprem a função de manter a leitura e o consumo de filmes. raciocínio positivista? talvez.

o realismo social funciona?

um militante de partido "revolucionário" é o cara que troca tudo que tem por "avanços" da revolução. os avanços muitas vezes confundem-se com o crescimento de seu próprio partido. os "avanços" podem ser uma greve que dirigiram, um tropeço do partido da "situação" e outras pequenices. essa é a confusão, ora "bem-intensionada" ora oportunista que os dirigentes dos PCs e os diretores dos CNs, fazem: tudo pela massa! essa é a ética-estética desenvolvida por Stalin: um logo da foice-e-martelo de ouro no metro de Petrogrado. (e, vale dizer, praticamente todos os PCs no mundo, incluindo o brasileiro, sempre foram alinhados com as políticas da URSS).

a lasanha que eles comem é a lasanha que querem libertar. a abstração da própria individualidade e, traduduzindo-se, do ímpeto por loucuras, magias, é o aborto do ímpeto revolucionário, o aborto do "vamos esculachar tudo!". a revolução é permanente por princípio, não coisa decidida entre burocratas "sérios" numa sala fechada. nisso erram os dirigentes dos PCs e nisso erram os diretores do CN.

o cinema de invenção faz o que lhe cabe: arte de invenção. rouquidão extremada. rock´n roll. guitarra. hendrix. samurai. vampiro. íncones e não "histórias".

o assunto, de qualquer forma, é eterno: permanente!